Ei Lula, nós temos sobrevivido o imperialismo russo, aquele que você defende - comentário

    Espanto, choque, surpresa - sim, são essas palavras que representam meus sentimentos quando eu leio comentários sob notícias dos principais veículos brasileiros no twitter, que informam sobre a invasão russa da Ucrânia. Muitos deles são mentiras, apoios diretos à Russia, criticas dos EUA, da OTAN, da Ucrânia e do seu presidente Zelensky, são defesa do presidente brasileiro a também relativização da política agressiva e criminosa da Rússia.

Bandeira da União Soviética atrás da bandeira da Rússia, fonte: Euromaidan Press

    Por que os autores deles têm tanta necessidade de defender a guerra com elementos de genocídio provocada pela Rússia e no mesmo tempo ser tão críticos contra a nação que está sangrando para sua sobrevivência e contra aos aliados dela? Claro, tomo isso com um grão de sal - é uma rede social, que não oferece uma imagem real da sociedade toda. No entanto, é a concentração e a quantidade deles junto com as falas do presidente brasileiro que me (nativo tcheco, de país que "desfrutou a fraternidade russa" mais do que o suficiente) levou a escrever esta confissão e mensagem para aqueles quem talvez estejam dispostos a ouvir - que não há nada para defender a Rússia.

    Por que? 

    No entanto, eu não sou um especialista em história nem em relações internacionais. Não. Mas além de ter algum conhecimento da convivência problemática entre os russos e os europeus, parcticulamente na Europa Leste, também me considero democrata liberal e a democracia liberal, que por falar nisso, é um pilar da sociedade europeia e das outras sociedades livres no mundo, deve ser sempre protegida e os democratas devem se apoiar independentemente da nacionalidade. Até no Brasil há democratas, democratas verdadeiros, que estão tomando atitudes certas em relação à guerra na Ucrânia, ao contrário do presidente brasileiro, Lula, quem parece que só se finge ser um democrata assim como muito dos seus apoiadores (só lutar contra uma ditadura não faz de ninguém um democrata , ainda mais daquele quem defende outras ditaduras e relativiza seus crimes).

    Eu tento seguir notícias sobre coisas públicas, política e também sobre a invasão russa da Ucrania, da qual me atingiu muito, deixou a minha percepção da Europa segura e tranquila ser quebrada e embora eu nunca estivesse com sentimentos especiais para a Ucrânia, entendo bem e admiro a vontade do presidente, dos soldados e da sociedade ucraniana salvar seu futuro. Estou ciente do risco do qual representa a Rússia de hoje, não somente para seus vizinhos, mas para o mundo todo. Meu país tem várias mas trágicas experiências com agressores e ocupantes e a história dela serve como uma lembrança de aviso para presente e futuro em sentido que não podemos dar lugar ao mal.

    Aprendo português e faço contato com ambiente brasileiro e isso me dá oportunidade de passar o recado para aqueles que não tiveram a experiencia com a presença de um "irmão" expansível no leste, mas a história do país grande e bonito deles também surgiu de subjugação e opressão por um outro poder colonial - subjugação e opressão as mesmas que agora a Ucrânia está enfrentando.

    Começar com nomenclatura. A própria maneira como essa guerra está sendo chamada, afeta como será tratada e vista. É uma invasão russa na Ucrânia, uma guerra ou conflito, onde é absolutamente claro quem é o agressor e quem é a vítima, vou lembrar - a Rússia é o agressor e a Ucrania é a vítima. E nada muda esse fato, nem monte de imperfeições que a Ucrânia tem. Não é nenhuma operação especial para desnacificar e desmilitarizar a Ucrânia. Quem talvez tenha dúvidas, deve rapidamente parar de ler mídias que citam fontes russas.

    Falando sobre citação - aqui há uma dificuldade - fornecimento de informações durante a guerra é naturalmente regulado por ambos lados, enquanto continua propaganda da guerra. Então é necessário levar as informações com atenção. Esse teorema deve ser aplicado para as ambas - Ucrânia e Rússia. Por outro lado, desde inicio da guerra há muitos jornalistas (entre eles também brasileiros) na Ucrânia que estão cobrindo o fluxo dos eventos e informam de forma confiável. Apesar do fato que na Ucrânia há lei marcial declarada e o país está em estado de guerra, mantêm a liberdade de imprensa. Assim ela se difere da Rússia a qual é autocrática e onde a existência de imprensa livre praticamente acabou com o inicio da guerra, embora sua repressão estivesse occorido por um longo tempo e jornalismo independente já foi completamente substituído por propaganda dirigida pelo estado - na história russa um fenômeno muito comum.

   Desde a época do czar, passando pelo governo do proletariado, até a chegada do Putin ao Kremlin (talvez com uma exceção de tempo curto depois da dissolução da União Soviética nos anos noventa) a elite russa tem controlado o que pode ser dito e o que não. E não há duvida nenhuma - um russo ordinário nunca experimentou uma liberdade verdadeira e estado de direito, simplesmente não conhece essas coisas. A Rússia não é um estado democrático de direito com justiça independente, com garantia dos direitos de liberdade de expressão, protestar, reunir, etc., é o oposto.

Mapa da Ucrânia com avanço russo em 2022, fonte: ResearchGate
     De acordo com os especialistas, tudo importante na Rússia de hoje está sendo decidido pelo Vladimir Putin, que é cercado por uma estreita faixa de pessoas - elites que lutam entre si por influência e favor dele. A divisão de poder é concentrado em Kremlin, a assembleia federal cumpre um papel de folha de figueira e a sociedade russa vive em atmosfera de intimidação, corrupção, censura e desleixo. Uma verdadeira oposição não existe, os cidadões russos não são capazes de afetar eventos públicos sem autorização do regime. Não tem condições favoraveis para os individuos com mente livre, que são encontrados em perigo e parte deles teve que procurar asilo no exterior (mas isso não significa que todos russos no exterior não concordam com governança do Putin).

    Para que seja o regime democrático, tem que respeitar os principios democráticos - o povo como fonte do poder, a maioria como fonte do governo, as eleições regulares e livres, a divisão do poder, as leis justas, a igualdade, o individualismo, a proteção das minorias, a liberdade de expressão, de religião, de decisão e muitos mais. Alguns desses principios são incluídos na Carta dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais e na maioria também na Constituição. O descumprimento deles leva para que a sociedade se torne não-livre, como tem acontecido na Rússia. E porque a sociedade na Rússia não é livre, o estado - Kremlin a controla.

    Então a Rússia é um estado autocrático, embora alguns dizem que é um império. Essas opiniões são documentadas por narrativas da propaganda russa - sua essência é uma Rússia como um país dominante, poderoso, um poder mundial, um protetor dos valores tradicionais cristãos, superior às outras civilizações e autorizada a tomar qualquer atitude, desde que elas sejam para seus interesses. Essa propaganda com características agressivas nacionalistas e xenófobicas, construição das aldeias de Potemkin, provisão de sensação falsa de excepcionalidade, construçao de relação e afiliação de cidadão simples com grande e poderoso país, grande império, grande nação russa com seu grande líder, grandes tradições e grande história, tem como seu objetivo entre outras coisas compensar muitas falhas e problemas, das quais está a sociedade russa exposta.

    Rússia está enfrentando várias crises - econômica, demográfica, criminalidade alta, a qualidade da vida baixa e muitas outras, das quais o estado não é capaz de resolver - não é efetivo, é corrupto e criminoso. E tal é incapaz de auto-reflexão, ao contrário culpa outros desses fracassos.

    Sem coorte desses inimigos alegados e verdadeiros o regime russo não podia justificar sua existência e crueldade. Qualquer um pode ser um inimigo dele - uma pessoa com pensamento livre, com idéias progressistas, um democrata, um dissidente, um membro da comunidade LGBT e das outras. Além dos inimigos domésticos o Kremlin precisa de inimigios no exterior. Aqueles considerados são geralmente estados livres e democráticos, especialmente aqueles que historicamente fariam a parte do império russo e agora se refutam sucumbir a influência de Kremlin e encontraram segurança sob as asas da UE, OTAN, EUA - inimigo tradicional na geopolítica. As características comuns desses países é um fato simples, que a maioria da sociedade vive melhor do que na Rússia e ao contrário dela, vivem com foco para o futuro e não para o passado.

Propaganda russa, fonte: Financial Times

    Kreml é bem ciente disso e com certeza é um paradoxo, que muitos parentes das elites russas vivem, estudam e fazem negócio no Ocidente - naquele Ocidente estragado e decadente como o chama a propaganda russa que também manipula e coloca o povo russo contra ele. Esse fato simples não precisa de ser questionado ou defendido, porque nem tem como. Basta ler ou ouvir declarações dos representantes russos, propagandistas ou comentaristas no canal RT, Rossiya 1, Sputnik, nas redes sociais ou outras mídias operadas e apoiadas pelo estado. Muitas vezes elas são de caráter mentiroso, distorcido, vulgar e ofensivo, são ameaças, críticas e maldição. Seus alvos são pessoas ou estados e seus representantes chamam de estilo xenófobico, racista e também de nazistas, aliás isso é uma maneira bem-sucedida para justificar a guerra atual na Ucrânia - a propaganda russa sabe muito habilmente operar com essa narrativa sobre inimigos nazistas (uma referência à Grande Guerra Patriótica, os nazistas da Alemanha e a grande vitória russa).

    Esta agressão e ódio propositalmente direcionadas da maquina de propaganda russa corresponde com a realidade do comportamento do estado russo - invasões dos seus vizinhos pequenos, estimulação dos conflitos de guerra em outras regiões do mundo, mas também tentativas de destabilizar a situação política não somente em estados da sua influencia. Não é por acaso que a Rússia tem costume de subjugar entidades mais pequenas, mais fracas e vulneráveis, isso além de comprovar a falta absoluta de respeito para igualdade e lei mas também que ela age de posição de força.

    Ninguem é tão ingênuo para dizer com a consciência tranquila que a coabitação internacional é perfeita e sem conflitos, as guerras são velhas tanto quanto o ser humano e elas nos acompanham no dia presente também. Além de muitos conflitos locais, infelizmente, nós temos testemunhado guerras maiores nas últimas décadas nas quais participaram, entre outros, duas potências mundiais - Rússia (é com certeza questionável falar sobre ela como uma potência) e EUA e seus engajamentos militares foram muito criticadas, justificadas e tornaram se objetos de muitas discussões. Por que estou dizendo isso? Porque nessas guerras ambas cometeram crimes de guerra, crimes contra humanidade, violaram acordos e direitos internacionais.

    Mas ainda é possível perceber uma diferença fundamental entre os dois atores - a Rússia os comete em massa escala, não permite as investigações independentes, recusa todas críticas, os atos controversos relativiza e os indivíduos e grupos responsáveis por eles são condecorados e considerados heróis nacionais. Não é surpresa, que a Rússia aplica a mesma atitude para tratar a sua história - nunca condenou a natureza criminal dela como aconteceu e conseguiram na Alemanha.

    Kremlin historicamente tem usado para seus objetivos imperiais seus aliados no exterior - outras autocracias, juntas militares ou ditaduras, mas também indivíduos e grupos amigáveis em estados democráticos - inclusive no meu país. Como um dos membros da antiga União Soviética, a República Tcheca (antiga Tchecoslováquia) sempre foi, é, e será um objeto de interesse russo e influência na região da Europa Central. Como os outros estados, especialmente do Leste Europeu, ela fez parte da tão chamada zona de colisão para a Uniaõ Soviética contra o Ocidente hostil durante a época da Guerra Fria e também uma fonte bem-vinda de meios financeiros e econômicos para garantir a existência do império soviético. Depois da queda da Cortina de Ferro e saída das tropas ocupantes russas, acharam no Ocidente, inclusive no meu pais que é possível manter um relacionamento mutualmente benéfico e se nos abrirmos para a Rússia, a ajudamos com um processo de democratização sucedida.

    No entanto a maioria das representações políticas dos estados europeus não foram capazes de admitir a existência desse erro até de manha fatal de 24 de fevereiro do último ano. Elas negligenciaram os avisos dos serviços secretos, que a Rússia estava construindo uma rede poderosa de espionagem, espalhava propaganda, subornava políticos e minava confiança em estabelecimento democrático através de quintas colunas, traidores e partídos e movimentos políticos anti-sistemas e ignoraram até a ocupação russa da Crimeia e fomentação da guerra no leste da Ucrânia em 2014.

    Os serviços secretos da República Tcheca têm informado pelo menos uma década sobre amplificação da campanha de desinformação russa em espaço público, especialmente naquele virtual, com o desenvolvimento das redes sociais e várias plataformas de informação e mídias. O objeto dessas tentativas é perturbar a confiança da população tcheca no estado de democracia e suas instituições, na União Europea, nos aliados do Ocidente e alguns partidos pró-ocidentais e seus representantes. Kremlin tem tentado aplicar sua influência através de pessoas aliadas, grupos ou movimentos políticos e seus integrantes com atitude submissa para ele - um exemplo típico foi o ex-presidente tcheco Miloš Zeman.

    Em início do milênio, o propósito fracassado dos Estados Unidos de construir uma base de radar para detecção de mísseis inimigos na Tchequia se tornou um sucesso para Russos. Mas o mais conhecido e grave ataque à soberania tcheca foi a destruição dos depósitos de munições na aldeia de Vrbětice pelos agentes russos, durante o qual morreram dois cidadãos checos. A Rússia nunca admitiu a responsibilidade.

    Não apenas essas atividades hostis, mas também uma história cheia de sofrimento sob domínio russo tem levado a sociedade tcheca à vigilância mais alta contra tudo vindo da Rússia, mas não é russofobia de propósito mas uma reação natural e lógica ao perigo, que como vemos hoje, ainda existe. Nesse sentido não é uma surpresa, que os Tchecos pertencem aos mais firmes e confiáveis aliados da Ucrânia. A invasão soviética pelas tropas dos países do pacto de Varsóvia em agosto do ano 1968 (há 55 anos) é sem dúvidas uma paralela bem válida à invasão atual da Ucrânia e muitos ainda se lembram dela vividamente.

    É compreensível que a maioria da sociedade da República Tcheca, o governo e o presidente Petr Pavel, um ex-funcionário da OTAN e então general do Exército Tcheco compartilharam posição condenatória sobre a atual agressão russa e são para apoio máximo da Ucrânia invadida. Essa atitude é moralmente correta e justa.

Presidente da República Tcheca - Petr Pavel, fonte: Lidovky

    A lista das atividades russas hostis na Europa é longa - de invasão da Moldóvia, parcialmente ocupada até hoje, através de ataques cibernéticos contra Estónia, assassinato do ex-agente russo Litvinenko, tentativa de assasinação de outro ex-agente russo Skripal e sua família em Grã Bretanha, ataque contra Ucrânia e abatimento do voo MH17 em 2014 até a guerra atual em grande escala. 

    E a Rússia não se concentra apenas na Europa, vou nomear uns outros exemplos - guerras na Chechênia, Georgia, participação russa na guerra na Síria ou na África e vontade infinita de destabilizar a sociedade ocidental por criação de conflítos internais, influência do discurso público, das eleições e evocação da desconfiança em sistema democrático e atual ordem mundial e além do mais, não respeita acordos internacionais. A Rússia diretamente segue seu antecessor - União Soviética - a existência política e estatal mais sangrenta do século 20, que subjugou a maioria de seus vizinhos, tirou suas liberdades, independências, futuros e levou o mundo à beira de uma guerra nuclear por meio século.

    Nesse contexto mencionado acima é extremamente surpreendente como é a Rússia tratada pelo governo brasileiro e apoiadores dele. A Rússia, que nunca desistiu dos seus desejos imperiais. A Rússia, onde na votação para a maior figura histórica o poeta Pushkin não ganhou, mas o criminoso Stalin. A Rússia, que regularmente ameaça o mundo livre de destruição com suas armas atômicas. A Rússia, que ao vivo está matando civiis ucranianos, mandando misseis para prédios residenciais, hospitais muito atrás da linha de frente, perto da fronteira com a Polónia, Eslováquia e Romênia. A Rússia que está construindo novos gulags para cidadãos ucranianos, roubando crianças ucranianas, torturando cativos ucranianos e cometendo outros crimes de guerra. A Rússia que sem parar mente e os crimes, que comete, minimiza, nega e até ao contrário culpa a Ucrânia por eles.

    Como é possível que o Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula - promotor da paz autoproclamado, pode dizer, que é necessário considerar preocupações de segurança da Rússia, o país, onde são pessoas pressas por protestar contra guerra, o país, onde um exército privado de um criminoso aproveita "férias" na Bielorrússia depois da sua campanha rebelde contra Moscou?

    Como é possível que o presidente Zelenskyy se-torna um alvo de ódio e críticas nas redes sociais, quando de maneira muito diplomática reage ás falas vergonhosas do Lula sobre parte igual da Ucrania na guerra como da Rússia ou quando pede um apoio dos outros países do mundo? Todo cidadão não esperaria tal esforço diplomático de seu presidente se seu país fosse atacado?

    Como é possível que a narrativa russa sobre nazistas ucranianos ainda está tão viva se considerarmos a existência dos nazistas na maioria dos países do mundo e nos seus exercítos, até na Rússia e no próprio Brasil. 

    Como é possível que as pessoas ainda acreditam que a guerra na Ucrãnia é na realidade uma guerra iniciada pelos EUA com objetivo de destruir a Rússia? Afinal, se a OTAN entrasse no conflito, a guerra terminaria em uma semana com uma clara derrota russa.

    Como é possível que a expansão da OTAN está sendo responsável pela guerra? Afinal, a adesão é voluntária, seus novos membros são pequenos estados que historicamente tiveram uma experiência ruim com a Rússia, e os países pobres que não tiveram tempo de se tornar membros foram engolidos pelo faminto urso russo. Desde quando o direito russo e a preocupação dele com sua segurança são superiores aos direitos e preocupações de segurança dos outros estados?

    Como é possível que o Lula no tempo quando Bolsonaro estava destruindo a democracia brasileira, chamou o mundo em alarme, e agora quando uma outra democracia luta pela sua sobrevivência, este próprio Lula fica parado, aumenta a troca comercial entre o Brasil e a Rússia, declara se neutro na ONU sem impacto nenhum para a Rússia, tem a audácia de críticar o presidente ucraniano, dizendo que ele supostamente não tem interesse na paz? Qual paz? A paz com um pedaço de território ucraniano com sua população e recursos naturais nas mãos russas?

 

Presidente brasileiro Lula, fonte: BBCNews

    Eu estou ciente da neutralidade brasileira histórica na política externa. 

    Também estou ciente dos laços econômicos e comerciais entre o Brasil e a Rússia. 

    Também estou ciente da desconfiança, da qual uma parte da sociedade brasileira sente em relação com EUA. 

    Também estou ciente da atitude brasileira, que tem como objetivo aumentar a influência do Brasil no campo internacional. Eu respeito a soberania brasileira, a independência e o direito de tomar posições concretas, das quais são consideradas lucrativas pelo seu governo. 

    Também estou ciente, que em geral os brasileiros não tem expêriencia direta com o imperialismo russo. Para eles é tão distante tanto quanto é o colonialismo europeu na america latina para os tchecos. Séria hipocrisia aqui criticar falta de conhecimento e incompreensão. Ao contrário, eu queria reconhecer a posição pró-ucraniana da maior parte da sociedade brasileira, que condena a invasão. O presidente brasileiro deve levar isso em consideração.

    Entendo muitas razões lógicas e defensáveis ​​pelas quais o Brasil deve ser neutro nesta guerra, embora não concorde plenamente com elas, pois estou convencido de que as consequências deste conflito não param nas fronteiras da Ucrânia. Não sou cidadão brasileiro, portanto respeito seu direito soberano de defender suas opiniões.

    No entanto, ouso expressar minhas dúvidas de que o governo do presidente Lula SEJA neutro e considero as declarações dele e do assesor Amorim muito hipócritas, vergonhosas e acima de tudo desnecessárias. Não importa qual seja o motivo, seja ignorância, desconhecimento, covardia, convicções ideológicas ou um esforço para não fazer inimigos no Kremlin. O importante é que o Brasil é uma das maiores democracias do mundo e os estados democráticos estão ligados pelo respeito mútuo às regras, humanismo e liberdade.

    É claro que o presidente brasileiro não defende estes princípios, ao contrário, ele tolera a destruição deles.

    Se Lula pode fazer algo de positivo pelo mundo e pelo seu país, certamente não será assumindo o papel de advogado do diabo - Vladimir Putin - o maior criminoso de guerra do século XXI.

    Mas ainda tem tempo para aprender, bastaria ouvir as vozes da maioria dos brasileiros e também das pequenas nações da Europa Central e Leste, as vozes daqueles que viveram a lição histórica e estão enfrentando o teste atual sem hesitar.

 

Por fim, duas citações:

Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto:  

"Não seja imparcial. Neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado.

 

Václav Havel, dissidente, ex-presidente tchecoslovaco e tcheco:  

"Acho que por muitos séculos houve um problema russo tão grande que a Rússia não sabe exatamente onde começa e onde termina. Mesmo sendo o maior país do mundo, ainda se sente um pouco pequeno e ameaçado até pelos minúsculos vizinhos ao seu redor.


 

Josef Humlíček

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